Secretaria de Estado da Saúde discute a importância da atuação em rede no enfrentamento às várias formas de violência

A Secretaria de Estado da Saúde, através da diretoria de Vigilância em Saúde e apoio da Fundação Estadual de Saúde (Funesa), realiza nos dias 23 e 24 de março, um seminário para discutir com profissionais da Rede Estadual de Saúde, as várias formas de violências. 

O público-alvo são coordenadores de vigilância em saúde e atenção primária que devem atuar no enfrentamento às violências praticadas contra grupos minorizados socialmente: crianças, adolescentes, mulheres, idosos, população negra e LGBTQIAP+.  “No evento estamos reunindo a Rede de Atenção, Rede Proteção e a Rede de Responsabilização,  contamos com a presença de três convidadas qualificadas para esse diálogo. Será feito um recorte sobre a violência sexual praticada contra crianças e adolescentes, pois, os dados mostram que é a faixa etária que sofre mais com esse tipo de violência. As mulheres e outros grupos vulneráveis também entram nas estatísticas de vítimas de violências que vão além da sexual”, explica a Referência Técnica de Violência e Prevenção de Acidentes da SES, Carla Anacleto. 

De acordo com dados do Sistema de Agravos de Notificações (Sinan), o maior número de notificações está relacionado à violência interpessoal/autoprovocada. De 2017 a 2021, o número absoluto é de 7.629 casos, as mulheres são 75% desse percentual e 25% acometem homens. Em 2020, ano crítico da pandemia, foram registrados 417 deste tipo de agravo, a violência física e sexual também se destacam nos últimos anos, em 2020 foram 1001 notificações e em 2021 estão registradas 898 casos; as notificações de violência sexual nos anos citados foram 296 e 282, respectivamente. 

As informações do Sinan revelam ainda que a população entre 20 e 29 anos predomina entre as vítimas de violências, porém, todas as faixas-etárias aparecem nos dados. Os municípios com maior volume de residentes vítimas de violência são Aracaju com 37%, Nossa Senhora do Socorro 12,2%, Lagarto 6,5% e Simão Dias 4,5%. Os principais locais de ocorrência dessas violências são as residências com 1130 casos registrados em 2020 e 995 em 2021. As vias públicas aparecem como segundo local classificado de violências, 173 notificações em 2020 e 126 casos no ano seguinte. 

De 2017 a 2021, os agressores que aparecem em destaque nas notificações são do público masculino, um percentual de 48,6%  e agressores do sexo feminino são 23,3%.  No tocante ao vínculo que o agressor possui com a vítima, em 2020 foram 208 registros de cônjuges como autores de violência e no ano passado foram 195 casos. O outro grupo de agressores que mais aparece nos dados é de amigos e conhecidos da vítima, foram 174 casos em 2020 e no ano seguinte o número não mudou muito, 171 casos tiveram este perfil de agressores. 

Os dados acima foram compartilhados com os participantes do evento por Lourivânia Prado, Superintendente da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL) e Referência Técnica do Serviço de Violênca Sexual do Serviço de Violência Sexual da SES. “Achamos importante trazer um panorama geral sobre os agravos das violências doméstica, interpessoal, sexual, dentre outras. Por isso, apresentamos os dados estatísticos, perfil das vítimas e agressores para discutir sobre a rede de atenção e cuidado às vítimas. Além disso, é um espaço propício para falar das nossas políticas públicas que estão sendo encaminhadas pelo estado em relação à violência sexual, estamos elaborando novas propostas de reorganização do fluxo de atendimento às vítimas, sobretudo, a partir da implantação do Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil em Sergipe (CRAI), a unidade em breve será entregue à sociedade e terá como principal foco o atendimento as crianças e Adolescentes. 

De acordo com Lídia Anjos, assistente social, ativista nacional de direitos humanos e representante do Instituto Braços é preciso olhar para as violências que atingem, principalmente, alguns grupos sociais. “A ideia é refletir sobre o enfrentamento à violência, a rede de proteção, trabalhar a necessidade do acolhimento humanizado e das complexidades que envolve essas violência e das necessidades de grupos como LGBTQIAP+, população negra, mulheres, então, trazer reflexão na perspectiva de dignidade, direitos humanos. São grupos prioritários e historicamente invisibilizados, quanto mais podermos dialogar sobre aperfeiçoamento do acolhimento, enxergar aquilo que não está tão visível, aumenta a possibilidade de proteger, de um fortalecimento de todas as redes, numa perspectiva de uma construção com equidade. Cada ser tem suas especificidades, entendê-las é dar uma atenção especializada e a possibilidade de protegê-las melhor”, ressalta.

Na plateia, Guilherme Matheus que é enfermeiro residente do Programa de Epidemiologia Hospitalar da UFS anotava as informações com atenção. O estudante em formação vê as violências praticadas contra os grupos mais vulneráveis como uma endemia que precisa ser amplamente discutida, sobretudo, no âmbito da Atenção primária à Saúde. “A gente sabe que a violência é um agravo à saúde que afeta todas as pessoas, porém, afeta ainda mais o público feminino. É importante que homens e mulheres participem desse momento em prol da proteção dos grupos mais vulneráveis: crianças, adolescentes, mulheres, idosos. Devemos abrir os nossos olhos em relação ao aumento do número de violências, por isso, essa reunião nos mostra que precisamos planejar estratégias para o enfrentamento do aumento de casos que se mostraram elevados nos últimos anos. Os dados expostos no seminário nos mostram que a maior parte dos casos acontece na residência das vítimas, então, a Atenção Primária é fundamental porque ela está próxima da família. É por meio da Atenção Primária e da Vigilância em Saúde que vamos ter conhecimento desses casos e poderemos dar o seguimento possível, tendo em vista as especificidades de cada caso”, enfatiza o jovem.

Fotos: Flávia Pacheco

  

Publicado: 23 de março de 2022, 17:03 | Atualizado: 23 de março de 2022, 17:38