Falsa paciente oncológica aplica golpe e é detida enquanto aguardava atendimento no Huse
Uma ação criminosa e perigosa foi desmascarada na tarde desta quinta-feira, 26, no Centro de Oncologia do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), depois de uma jovem de 32 anos se passar há quatro meses por paciente oncológica, fraudando exames de laudos e histoquímica, além de fazer uso de quimioterapia. Depois de uma denúncia anônima, realizada na última terça-feira, 24, às 17 horas, os médicos analisaram os exames e prontuário, ligaram para o laboratório e lá, fizeram a comparação de que realmente, o laboratório tinha enviado para o médico um laudo verdadeiro, onde comprova que a jovem não tem câncer.
Aline Silva de Carvalho, como é chamada, entrou no Huse para início do tratamento no dia 4 de dezembro com laudos falsos de exames de imagem e anatomopatológico que diziam que ela tinha câncer e, por conta disso, ela teve a sua primeira consulta médica. A partir daí, a jovem não teve medo de mais nada e continuou com o seu plano arriscando a própria vida. Durante a consulta, a doutora fez uma apalpação na mama e sentiu um caroço, só que esse caroço foi por conta de uma fibrose de uma cirurgia estética que ela fez para redução da mama.
Como o relacionamento da jovem ficou abalado depois da cirurgia, a mesma, aproveitou a ocasião para fantasiar uma doença que acomete muitas mulheres no mundo todo: o câncer de mama. Ela planejou tudo de forma muito bem elaborada, se utilizando de um laudo de outro paciente com o diagnóstico de câncer. Ela fez uma montagem do laudo da peça do rapaz com a biópsia que veio no nome dela (esse com o resultado negativo), alterando a parte que fala da doença, em uma montagem bem feita, que não despertou a desconfiança dos profissionais.
De acordo com o diretor Técnico do Huse, Vagner Andrade, a paciente iniciou o tratamento oncológico há quatro meses e assim que soube do ocorrido tomou todas as providências legais e cabíveis para apuração e sucesso do flagrante. “Ela nunca tinha entrado no serviço, pois, o único serviço referência no tratamento de câncer de mama no Estado é o Huse, onde ela só iniciou o tratamento no dia 4 de dezembro do ano passado. Diante disso, quando foi descoberta essa fraude na última terça-feira, 24, o jurídico do hospital, no dia seguinte, foi até a 8ª Delegacia Metropolitana para prestar um boletim de ocorrência, em cima do laudo falsificado, do prontuário e dos laudos verdadeiros, além de acionarmos o Conselho Regional de Medicina para resguardar os profissionais. Depois disso, foi aguardada a presença dela no hospital onde estava com uma consulta marcada para levar os exames solicitados pelo médico, já que a imunidade dela estava baixa. Foi quando aconteceu a apreensão dela por volta das 14 horas”, explicou.
Ele destacou ainda o risco de vida que a paciente sofria. “A jovem correu um risco muito grande, ela usou medicamentos que são destinados a matarem as células cancerígenas e com isso você acaba tendo uma ação das células normais, é um fato lamentável”, disse.
Campanha
Como se não bastassem as 6 sessões de quimioterapia que iniciaram no dia 12 de março deste ano, a jovem produziu uma campanha nas redes sociais em outubro de 2017, alegando que gastava R$ 13 mil por semana e que o Sistema Único de Saúde (SUS) atrasava o tratamento. Durante esse período da campanha, ela já havia raspado a cabeça para a doença parecer real e comover os internautas. Ela arrecadou em média R$7 mil das pessoas que ingenuamente depositavam a ajuda para o tratamento.
A justiça fará a quebra do sigilo bancário da jovem para descobrir se realmente esse foi o valor arrecadado com a campanha. Na delegacia, ela confessou que armou esse plano para segurar o namorado, quando ele percebeu que ela estava com câncer, ele continuou o relacionamento com ela, só que chegou a um ponto que não tinha mais como ela retroagir.
O flagrante foi feito de forma discreta, em meio a dezenas de pacientes que estavam no local aguardando pela consulta ou tratamento. A consulta da jovem era de acompanhamento, já que a imunidade dela estava baixa. Tudo foi muito bem articulado com equipe de policiais civis comandada pelo delegado Fernando Melo, da 8ª Delegacia Metropolitana, o jurídico e o gerente da segurança do hospital. Ela chegou a Oncologia do Huse de forma espontânea e com os exames solicitados pelo médico.
“Na tarde da última terça-feira, 24, fomos procurados pela equipe do hospital que nos informaram sobre a possível fraude, durante essa investigação inicial ficou comprovado e na data de hoje, quando ela se dirigiu até o hospital para levar outros exames e continuar com o tratamento que ela não estava necessitando, foi feito o flagrante e ela foi conduzida até a delegacia. O mais grave é que alguém que realmente precisava do tratamento deixou de fazer, pois ela estava em um lugar sem necessidade. Vamos continuar com o inquérito policial e fica o alerta para as pessoas sobre os cuidados com essas campanhas que são muito perigosas. É necessário se informar bastante sobre essas campanhas e a real necessidade do paciente”, concluiu o delegado.
Publicado: 27 de abril de 2018, 14:03 | Atualizado: 27 de abril de 2018, 14:03