Profissionais do Presídio Feminino são capacitados sobre tabagismo
Por Luiza Sampaio
Um projeto pioneiro no estado pretende incentivar que as internas do Presídio Feminino (Prefem), localizado no município de Nossa Senhora do Socorro, acabem com a dependência do cigarro. A ideia, que recebe a parceria da Secretaria de Estado da Saúde (SES), a partir do Programa de Controle do Tabagismo e da Saúde Prisional, é que, através de técnicas baseadas na abordagem cognitiva-comportamental e o uso de medicamentos, quando necessário, as mulheres sejam incentivadas e apoiadas a parar de fumar, entendendo que o ato prejudica a saúde delas e das demais pessoas da instituição.
A proposta surgiu no ano passado, durante as ações do Outubro Rosa, quando a direção da unidade prisional solicitou que a Secretaria da Saúde do município participasse das ações levando uma palestra sobre tabagismo.
“Os profissionais de saúde perceberam que, corriqueiramente, as detentas apresentavam problemas relacionados ao cigarro. Então, resolvemos aproveitar o ensejo para tratar do tema e orientá-las”, conta a guarda prisional, Jucileide Vieira.
Após a palestra – que teve um resultado positivo –, o presídio cortou em 50% a entrada de cigarro. “A direção do Prefem visitou as celas e explicou o motivo da decisão. Tudo que é implantado na unidade precisa ser feito para não soar como imposição. Por isso, o discurso utilizado foi que ao largar o vício traz benefícios para a saúde. A instituição não ganharia nada com isso”, explica.
Vale ressaltar que o fumo em ambientes fechados e de uso coletivo foi proibido em todo o país a partir da Lei nº 12.546/2011.
A redução surtiu efeito, mas ela por si só não conseguiria atingir o resultado esperado: banir, totalmente, o uso de cigarros. “Foi quando pedimos a parceria do Estado e do Município de Nossa Senhora do Socorro, para que o Programa de Tratamento do Tabagismo fosse trazido para o presídio. A sugestão foi totalmente abraçada e, hoje, estamos dando o primeiro passo para o início dessas ações”, completa Jucileide Vieira.
Capacitação
A equipe do Prefem participou de uma capacitação na última quarta-feira, 3. A médica do Programa de Controle do Tabagismo de Socorro, Maria Amália Andrade, levou informações a respeito das consequências do fumo e as maneias de conseguir “driblar” a dependência.
“Eles foram qualificados e se tornaram multiplicadores desse conhecimento. Agora, terão o papel de estimular, orientar e acompanhar as detentas nesse difícil, porém, possível processo”, completa a médica.
De acordo com a coordenadora do Programa Estadual do Controle do Tabagismo, Lívia Angélica, o mais importante é que esse trabalho, certamente, irá refletir de maneira muito mais abrangente na vida das mulheres.
“São pessoas segregadas que, na atual situação, não possuem muitas opções. Como parar de fumar envolve uma série de mudanças de comportamento, com certeza, esses momentos de conversa servirão para que elas relatem sobre outros aspectos da vida e tenham a oportunidade de ser ouvidas. O grupo está apostando muito nos bons resultados que teremos”, declara.
A frente do Programa de Controle do Tabagismo em Nossa Senhora do Socorro, Cristiane Fonseca também acredita na proposta do projeto. Ela ressalta que, além do que já foi programado, a Academia da Cidade também deve levar atividades para o presídio, uma forma de ofertar outras possibilidades para as internas. “É uma ação que conta com parcerias. No final, todos querem a mesma coisa. Que essas pessoas não só abandonem o vício, mas vejam nessa iniciativa uma oportunidade de criar outras expectativas para a vida delas”, pontua.
Situação geral
O programa do tratamento do tabagismo está implantado em 50 municípios sergipanos. Por ano, cerca de 200 mil mortes por causa do cigarro são registradas no Brasil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece o tabagismo como uma doença epidêmica, responsável por causar aproximadamente outras 50 patologias, principalmente as respiratórias e cardiovasculares, além de vários tipos de câncer, como o de pulmão e brônquios.
“A cidade de Aracaju é a 2ª capital com menor índice de fumantes, com 6,6% da população, sendo que o Brasil atinge a média de 10,8%, de acordo com dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – 2014 (Vigitel)”, informa Lívia Angélica.
O modelo disponibilizado na rede SUS para tratamento do fumante tem como base a técnica da abordagem cognitivo-comportamental, definida como uma forma de intervenção centrada na mudança de crenças e comportamentos que levam um indivíduo a lidar com determinadas situações.
É realizada no formato de grupos ou individualmente, objetivando auxiliar o fumante a desenvolver habilidades que o ajudem a permanecer sem fumar, e, quando necessário, o uso de medicamentoso servindo de apoio a essa abordagem.
Publicado: 5 de agosto de 2016, 16:23 | Atualizado: 5 de agosto de 2016, 16:23