Estudo da Secretaria de Estado da Saúde revela dados da violência contra a mulher em Sergipe
Por Luiza Sampaio
Fazer um diagnóstico sobre os casos de violência contra as mulheres a partir dos equipamentos disponíveis Rede de Atenção à Saúde em Sergipe. Esse é o objetivo do primeiro informe epidemiológico elaborado pela Secretaria da Saúde (SES), através do Núcleo estratégico (Nest), que traça um perfil dessa problemática a partir de variáveis como: faixa etária, grau de escolaridade, raça/cor e o tipo de violência cometida com a vítima.
Segundo explica a analista de Situação do Nest, Patrícia Lima, autora do documento, a intenção é sensibilizar não somente a população mas os gestores que atuam na Pasta e que precisam compreender a realidade que várias mulheres enfrentam diariamente. “É claro que esse é um recorte menor que a realidade, mas o informe mostra o impacto e as proporções do problema. Sem dúvida, ele servirá de embasamento para a intensificação das ações da Secretaria”, diz.
O trabalho revelou que a Central de Atendimento à Mulher – Disque 180, equipamento da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República que tem por finalidade realizar orientação, receber denúncias e fazer encaminhamentos via telefonia, realizou 364.627 atendimentos em 2015, dos quais 328 foram realizados em Sergipe.
“Isso equivale a 33,56 assistências para cada 100 mil mulheres, colocando o estado em 6º lugar no país e 2º na região Nordeste no ranking dos estados brasileiros”, analisa Patrícia Lima.
Outro dado relevante mostrou que, ainda no ano passado, os profissionais de saúde registraram 1022 notificações de violência interpessoal/autoprovocada, das quais 740 (72,41%) foram de mulheres, distribuídos em seus diversos ciclos de vida. As informações colhidas através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) apontaram, ainda, a predominância dos casos em adolescentes, acompanhando durante toda a fase adulta.
“Isso não significa que os casos de violência também não atinjam as mulheres idosas. O que existe é uma dificuldade na identificação destes episódios, sendo mais visíveis durante o atendimento domiciliar”, ressaltou.
O informe também observou a incidência de notificação de casos de violência segundo a região de saúde, concluindo que Aracaju apresentou um coeficiente de 72,78 casos por 100 mil mulheres, em contraponto à Nossa Senhora da Glória, com 18,97.
“Precisamos destacar que, em três anos, tivemos uma evolução bastante significativa com a relação às notificações. Em 2012, foram 49,97 para cada mil mulheres. Já o ano de 2015 fechou com 64,19. Essa evolução, certamente, é fruto de um trabalho de fortalecimento da rede de enfrentamento e a preocupação do Estado em oferecer acesso à informação”, analisou a analista da SES.
A escolaridade é outra variável importante para a análise do contexto de violência em Sergipe. Entretanto, dos dados analisados, 52,72% estavam sem o campo preenchido, o que dificulta uma abordagem direcionada. “Situação parecida foi constatada no quesito raça/cor, onde observamos que 45,91% dos casos não tiveram esse campo preenchido, em virtude de não ser obrigatório”, complementa Patrícia Lima.
Porém, de acordo com a analista de Situação do Nest, nas notificações onde esse campo foi preenchido, houve um predomínio da cor preta e parda, somando 43,86% dos registros.
A analista da SES esclarece que o trabalho elaborado pelo Núcleo Estratégico também tipificou as formas de violência presentes. Através de um balanço da Central de Atendimento à Mulher, é possível observar que, somente no primeiro semestre de 2015, foi registrada uma média de 2025 atendimentos por dia, dos quais 8,84% foram de relatos de violência contra a mulher. Em Sergipe, no mesmo período, os dados indicam que 42,97% dos casos foram de violência física e 33,11% sexual, sendo os dois tipos mais recorrentes.
“É importante observar o percentual de 3,38% para as violências autoprovocadas, demonstrando a necessidade de um olhar atento da equipe multidisciplinar para esta problemática”, enfatiza.
A última análise do informe trata dos efeitos da violência doméstica, que pode contribuir para o quadro de adoecimento da mulher, especialmente quando o autor da agressão é o parceiro ou ex-parceiro dela.
No Brasil, em 2015, segundo informações do Disque 180, 85,96% das violências denunciadas foram domésticas; destas; 70,71% foram cometidas pelo parceiro ou ex-parceiro.
“Sergipe registrou no setor saúde, através das notificações, 31,62% de casos de violência doméstica, com ressalva para os casos envolvendo o marido da vítima. Outro ponto que chama atenção é que o problema independe da faixa etária da vítima. No geral, as mulheres continuam sendo maltratadas e agredidas pelos seus companheiros ou ex”, lamenta.
Para Patrícia Lima, a compilação dessas informações deve gerar uma sensibilização para o trabalho em rede, uma vez que a mulher vítima de violência necessita, além dos cuidados físicos, de assistência para as dores emocionais e sociais que ela acaba acumulando.
“Esse trabalho vai culminar com uma série de iniciativas, desde as ações de prevenção e identificação da agressão, até o cuidado e a disseminação de conhecimento, inclusive encorajando as mulheres a denunciar e buscar os direitos delas”, finaliza.
Publicado: 5 de abril de 2016, 17:35 | Atualizado: 5 de abril de 2016, 17:35