Em um ato de amor, família autoriza doação órgãos
Através da Central Estadual de Transplante, fígado do doador já foi encaminhado à Brasília
Por: Luiza Sampaio | Fotos: Morgana Barbosa
A baiana Jeane Coutinho de Oliveira está passando por um dos momentos mais difíceis na vida. Ela acaba de perder o marido, um jovem sergipano de apenas 27 anos, em uma situação trágica: ele foi alvejado enquanto trabalhava como segurança em uma festa, na cidade de Rio Real, Bahia. No entanto, ao invés de recolher-se em sua tristeza, Jeane resolveu unir forças e ajudar ao próximo, doando o fígado, os rins e as córneas do companheiro.
“É uma forma de tê-lo ainda por perto, mesmo que vivendo no corpo de outras pessoas, além de ajudar famílias a não passar pela mesma situação que eu”, revela, ainda emocionada.
O doador estava internado a cerca de 10 dias no Hospital de Urgências de Sergipe (Huse) e, assim que foi declarada a morte encefálica, os familiares mostraram-se favoráveis ao ato.
Com o consentimento dos familiares, foi dado início ao processo de doação, através da Central Estadual de Transplantes, unidade da Secretaria de Estado da Saúde (SES). “Realizamos a triagem de sorologia, além de vários exames no corpo do doador. Após os resultados, encaminhamos para a Central Nacional de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, que organiza a logística para a alocação dos órgãos em outro estado, viabilizando a vinda da equipe para Aracaju”, esclarece o coordenador da Central Estadual, Benito Fernandez.
Médicos do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal já estiveram na capital sergipana para captar o fígado, que em breve será transplantando em um paciente de Brasília. Já as córneas doadas serão destinadas a um sergipano; e os rins, após a realização do exame HLA (Antígeno Leucocitário Humano), que verifica a compatibilidade do órgão entre doador e receptor, também receberão um novo destino.
A decisão dessa família é louvável, principalmente porque, apesar de ser um ato de amor, muitos ainda nutrem certo tipo de receio em doar.
“A lei 10211/01 determina que o cônjuge ou parentes até segundo grau são os responsáveis em autorizar a doação, mas, é claro, o desejo do doador é sempre levado em conta. Por isso, é essencial que as pessoas comuniquem aos seus parentes a vontade de doar. Sem dúvida, este exemplo de hoje serve como incentivo”, ressalta Benito Fernandez.
Jeane entendeu essa importância e está orgulhosa do que fez. “Nunca conversei sobre isso com meu marido, até porque nunca achamos que a morte vai chegar tão cedo, como foi no caso dele. Mas tenho certeza que, esteja onde ele estiver, ficará feliz com o que fizemos. Estamos salvando outras vidas com pedacinhos dele. Isso ficará para sempre”, declara.
Transplantes em Sergipe
De janeiro de 2016 até agora, foram realizados 51 transplantes de córnea em Sergipe. No período, foram quatro órgãos captados e enviados para outros estados, sendo dois rins, um fígado e um coração. Já no ano passado, foram 137 transplantes de córnea em Sergipe, com 22 órgãos captados e enviados para outros estados (12 rins, quatro fígados, dois corações e quatro valvas).
Em breve, o Estado também voltará a fazer transplantes cardíacos. O Hospital do Coração e a equipe transplantadora já estão habilitados pelo Ministério da Saúde para realizar transplantes cardíacos, atendendo aos pré-requisitos da Portaria 2600/09, que é o regulamento técnico do Sistema Nacional de Transplantes.
Publicado: 21 de junho de 2016, 20:29 | Atualizado: 21 de junho de 2016, 20:29