Aids completa 38 anos e especialista alerta para importância de consciência coletiva

Em 5 de junho de 1981, nos Estados Unidos, o Centro de Controle de Doenças de Atlanta diagnosticava, em cinco jovens homossexuais, um tipo de pneumonia diferente que só afetava quem estava com o sistema imunológico bem debilitado. Um mês depois, 26 homossexuais apareceram com problemas de pele. Era a AIDS, doença nova e rara, se apresentando como tal pela primeira vez. No início, chamada de “câncer gay”, passou a ser conhecida no Brasil com o nome de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, em inglês Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS), doença que completa, nesta quarta-feira, 5, 38 anos.

Conforme dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde (MS), de 1987 até maio de 2019 o estado de Sergipe registrou 5054 casos de AIDS, 125 em crianças e 4929 em adultos, e 2212 casos de HIV, nove em crianças e 2203 em adultos. Vale ressaltar que HIV é a sigla em inglês para o Vírus da Imunodeficiência Humana e AIDS é a doença desenvolvida. Dessa forma, nem todo indivíduo que tem o vírus HIV chega a desenvolver a doença que ataca o sistema imunológico.

Os municípios sergipanos que apresentaram mais casos de AIDS, contabilizando crianças e adultos, são: Aracaju com 2311, Nossa Senhora do Socorro com 505, Itabaiana com 244, São Cristóvão com 193, Estância com 175, Lagarto com 138 e Propriá aparece com 117 casos. Já para os casos de HIV temos: Aracaju com 1021, Nossa Senhora do Socorro com 220, São Cristóvão com 93, Estância apresenta 90 casos e Propriá com 76.

“Temos que aproveitar essas datas para lembrar do tema AIDS que muitas vezes passa esquecido a nível nacional. A minha missão é manter vivo o tema AIDS e aqui em Sergipe a gente precisa estimular que ele seja discutido em casa, nas escolas, nos locais de trabalho, porque há uma banalização, nós estamos passando por um momento muito difícil em relação ao HIV no Brasil, as pessoas estão achando que a AIDS é como qualquer outra doença comum e não estão dando o valor devido como um grave problema de saúde pública”, alertou o gerente do Programa IST/AIDS da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Almir Santana.

Ganhos e Perdas

“Nesses 38 anos tivemos ganhos e perdas, vitórias e derrotas. A última vitória é a prevenção combinada onde a gente não tem só a camisinha para prevenção, mas também o uso de medicamentos. Para isso temos que fazer o diagnóstico precoce para que essas pessoas façam o tratamento imediatamente, com isso, diminuindo o risco de infectar outras pessoas. Há também a questão das profilaxias PrEP (pré-exposição ao HIV) e a PEP (pós-exposição ao HIV) que são grandes novidades incorporadas pelo Brasil. A maior derrota na luta contra a AIDS, para mim, é quando nasce uma criança com HIV, é o símbolo do que não funcionou no pré-natal, traduz o que não funcionou no pré-natal. E Apesar de nós termos medicamentos, testes, camisinha, ainda nasce criança com HIV. Esse é o lado difícil”, comentou Almir Santana

AIDS e Sistema Imunológico

O corpo reage diariamente aos ataques de bactérias, vírus e outros micróbios, por meio do sistema imunológico que é uma barreira composta por milhões de células de diferentes tipos e com diferentes funções, responsáveis por garantir a defesa do organismo e por manter o corpo funcionando livre de doenças.

Entre as células de defesa estão os linfócitos T-CD4+, principais alvos do HIV, vírus causador da AIDS. O HIV liga-se a um componente da membrana dessa célula, o CD4, penetrando no seu interior para se multiplicar. Com isso, o sistema de defesa vai pouco a pouco perdendo a capacidade de responder adequadamente, tornando o corpo mais vulnerável a doenças. Quando o organismo não tem mais forças para combater esses agentes externos, a pessoa começar a ficar doente mais facilmente e então se diz que tem AIDS.

“As pessoas estão confiando nos medicamentos ou criando justificativas para não usar a camisinha, como “já conheço meu parceiro”, “meu parceiro é saudável” e, sob o ponto de vista sexualidade, ninguém conhece ninguém. Sexualidade é muito íntima. Só a própria pessoa sabe”, reforça Almir.

A transmissão do HIV acontece das seguintes formas: sexo vaginal sem camisinha, sexo anal sem camisinha, sexo oral sem camisinha, uso de seringa por mais de uma pessoa, transfusão de sangue contaminado, da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação e através de instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

O HIV não é transmitido nas seguintes situações: sexo, desde que se use corretamente a camisinha; masturbação a dois; beijo no rosto ou na boca; suor e lágrima; picada de inseto; aperto de mão ou abraço; sabonete/toalha/lençóis; talheres/copos; assento de ônibus; piscina; banheiro; doação de sangue e pelo ar.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue ou por fluido oral através de exames laboratoriais e testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos. Esses testes são realizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nas Unidades Básicas e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).

Os exames podem ser feitos de forma anônima. Nesses centros, além da coleta e da execução dos testes, há um processo de aconselhamento para facilitar a correta interpretação do resultado pelo (a) usuário (a). Também é possível saber onde fazer o teste pelo Disque Saúde (136).

A AIDS não tem cura, pois ainda não existe um tratamento capaz de eliminar completamente o vírus HIV do organismo. Os medicamentos antirretrovirais (ARV), que surgiram na década de 1980, ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico. O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas.

“O panorama atual da AIDS tem a ver muito uma certa indiferença, não só de uma parte da população como também uma certa indiferença de alguns profissionais da saúde que não querem executar o teste nas suas Unidades Básicas de Saúde. Enquanto nós não abrirmos a disponibilização do teste para quem quiser, nós vamos ter um diagnóstico tardio o que compromete a qualidade de vida daquelas pessoas”, concluiu Almir.

Foto: Flávia Pacheco ASCOM SES

Publicado: 4 de junho de 2019, 12:16 | Atualizado: 4 de junho de 2019, 12:16